Manual de Morrer Sozinho -(Rodrigo Santarem)
Manual de Morrer Sozinho
Não se sabe,
se era suor ou lágrima,
o último fluído de existência
que o corpo daquele miserável
explodiu sobre a pele
severamente morena.
Apenas a cachaça
era capaz de fazer o ancião precoce
exibir suas gengivas pretas.
Ele era pobre e habitava o inferno terreno
de conviver com a frustração diária.
Quando a Mãe Terra
ainda podia dar as costas para ele,
sentia-se nulo diante da existência,
e os parasitas
que se alientavam de seu espírito
enxergaram demasiado tarde
que o amor um dia acaba.
Viveu sem pátria
desacreditado
e condenado desde quando
o Sol queimou pela primeira vez
os seus olhos.
A sujeição era bálsamo útil
e a insalubre aguardente
era na verdade
uma corajosa tentativa
de rebelião contra a inércia,
que no fim foi quem o matou
durante todas aquelas décadas lúgubres
(disse a medicina, que foi cirrose,
mas a Verdade sempre susurra nos ouvidos humildes).
Rodrigo Santarem
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